quarta-feira, 3 de junho de 2009

Emanuel, um histórico do voleibol de praia


Entrevista aquele que foi considerado o melhor voleibolista da década de 90.

Foram sete parceiros em 17 anos de carreira na praia. De cada um, Emanuel absorveu um pouco. Talvez por isso ele seja reconhecidamente o jogador mais versátil do mundo. Com um currículo de causar inveja a muitos desportistas de ponta, que inclui nove títulos do Circuito Mundial, sete do Circuito Brasileiro e duas medalhas olímpicas, uma de ouro em Atenas-2004 e outra de bronze em Pequim-2008, esse paranaense de 35 anos foi eleito recentemente o melhor jogador da década de 90 ao lado do ex-parceiro Loiola.Muitas destas conquistas Emanuel deve ao baiano Ricardo, seu fiel escudeiro nas últimas sete temporadas. Juntos há tanto tempo, ele admite que o desgaste da dupla é natural, mas garante que o segredo do sucesso tem sido deixar a vida pessoal de cada um bem separada. Recém casado com a ex-jogadora Leila, Emanuel prefere não apontar seu substituto, mas cita Pedro Solberg, Harley e Pedro Cunha como os grandes nomes do momento. Embora ainda não tenha data para parar, ele tem a certeza que dificilmente seguirá o caminho da mulher Leila. Tímido e introvertido, como ele mesmo se descreve, Emanuel espera continuar trabalhando com vôlei no futuro. Ele só não sabe ainda como, mas não descarta virar treinador.

Como foi seu início de carreira na quadra?
Eu joguei muito vôlei de quadra, inclusive como meio, e fazia uma função completamente diferente. Eu tinha 1,90m, mas era muito rápido. A agilidade que eu tinha na quadra eu trouxe para o vôlei de praia. Cheguei a jogar a seletiva para a Superliga pelo Curitibano. Mas no ano que a gente se classificou eu tive uma discussão com a diretoria porque eles resolveram contratar seis jogadores com melhores salários.

E foi isso que fez você migrar para a praia?
Exatamente. No primeiro ano (1992) que eu joguei na praia eu tive seis parceiros. Jogava três etapas com cada um e depois mudava. Esse fato fez com que eu amadurecesse a ideia de que eu tinha de achar um parceiro ideal e me tornar um jogador melhor com ele. Isso foi fundamental para você ter se tornado um jogador tão versátil. Com certeza. Além do fato de eu ter jogado com vários parceiros eu sabia que tinha que fazer da minha dupla a melhor possível. Foi essa bagagem que eu trouxe das quadras e levei para a praia. Eu acho que isso fez eu dar um salto muito grande.

E como foi esse encontro com o Ricardo?
Foi em função da Olimpíada de Atenas. Ele fazia parceria com o Loiola e eu jogava com o Tande. Todos imaginavam qual seria a dupla perfeita e citavam nossos nomes. Ele por ser um excelente bloqueador e eu pela minha versatilidade. Decidimos formar a parceria e começamos a jogar em 1992 visando os Jogos de 2004.

E o que mudou de Atenas até hoje?
De 2004 pra 2008 os times evoluíram bastante e se moldaram ao estilo que eu e Ricardo criamos. Quando a gente adotou a tática de um bloqueador alto na frente e um defensor médio e versátil atrás, muitas duplas lá fora formaram parceria nesta linha, como os americanos Todd Rogers e Phil Dalhausser e os alemães. Sem querer nós demos a fórmula mágica para essas equipes e quando chegamos em Pequim vimos que todas as duplas fortes jogavam assim.
Esse equilíbrio se deve ao fato das duplas jovens terem iniciado suas carreiras na praia?Essa nova geração criou um estilo diferente de jogar, porque até então nós jogávamos com bolas altas e jogadas adaptadas da quadra. Hoje a gente nota que esses jogadores sacam diferente e buscam jogadas originárias da praia. Essa juventude, de 23, 24 anos, joga em função de bloqueio e defesa. É uma estratégia diferente de quando eu comecei a jogar.

Você esperava que a modalidade pudesse chegar nesse grau de profissionalismo?
Sinceramente não. Quando eu comecei a jogar em 1992 imaginava que seria um esporte divertido mas que jamais seria jogado em alto nível. Já tinha premiação e patrocinadores, mas jamais imaginava que se tornaria um esporte. Na praia a responsabilidade é muito maior. Você tem que cuidar de tudo, desde sua alimentação até sua imagem. Você é o presidente do seu time e tudo gira em torno de suas decisões.

Vocês estão completando sete anos de parceria. Qual o segredo para vencer o desgaste?
A fórmula que nós criamos para formar um bom time é tentar deixar nossa vida pessoal bem separada. A gente treina junto o tempo todo, viaja junto e faz daquilo nossa convivência total. Mas quando a gente não está treinando ou viajando tentamos ficar o máximo de tempo afastado para que o lado pessoal não atrapalhe. Não nos metemos na vida um do outro. Eu só quero que o Ricardo chegue e seja o melhor jogador possível e esse é o desejo dele também.

Esse início de temporada menos vitorioso tem relação com o desgaste do último ciclo olímpico?Sim, e acho absolutamente normal. Geralmente em ano de Olimpíada a gente treina muito e nosso corpo chega ao limite. Isso já havia acontecido comigo nos Jogos de Sydney-2000. Nossa preparação física é forte nos três anos que antecedem a Olimpíada e alcança o ápice no ano olímpico. No ano seguinte obrigatoriamente temos que diminuir a carga de trabalho e nos dar uma folga física senão nosso corpo não rende e começa a sofrer lesões.

O equilíbrio no Circuito Nacional torna a disputa por uma vaga em Londres imprevisível?
Sim. A evolução é tão grande que daqui a três anos podem ter duplas novas brigando pela vaga. Hoje não dá para arriscar quais as duplas que estarão em Londres.

A chance de disputar sua quinta Olimpíada serve como uma motivação extra?
Eu sou um jogador que tenho meus objetivos pessoais e por tudo que eu conquistei no vôlei de praia eu acho que tenho mais essa oportunidade. É lógico que vai ser um grande desafio para mim porque eu vou estar com 39 anos e nenhum outro atleta na praia chegou nessa idade tão competitivo assim. Mas eu gosto de desafios como esse.

Você acredita que vai estar lá?
Acredito, sou movido a desafios. Minha meta é ser campeão mundial este ano pela décima vez e no ano que vem tentar meu oitavo título brasileiro. Eu tenho meus objetivos bem pré-determinados e para eu chegar na Olimpíada eu preciso passar por estes.

Depois dos Jogos de Londres você pensa em se aposentar?Depois de Pequim eu achava que já tinha feito tudo pelo esporte. Mas a medalha de bronze me fez achar que eu ainda tenho que fazer um pouco mais. Eu não posso dizer se até lá eu vou estar competitivo, mas se eu conseguir completar mais esse ciclo olímpico eu tenho certeza de que terei motivação para fazer outras coisas pelo esporte. Talvez até dirigindo uma equipe.

Após o casamento sua vida mudou?
Mudou. A vida de casado significa respeito. Eu espero do casamento algo que acrescente na minha personalidade. Ela é expansiva, gosta de conversar e isso trouxe coisas boas para mim. Eu sou muito introvertido e antes pensava muito no que eu podia fazer. Agora eu penso no que nós podemos fazer. Isso trouxe coisas positivas para meu jogo e minha vida pessoal.

Você acha que ela está indo bem na nova função de comentarista?
Acho que ela está indo muito bem. Como atleta muitas vezes você enxerga coisas que não pode expor porque ainda está em atividade. Agora ela pode falar tudo o que pensa e o que gostaria de ver dentro de quadra. Eu infelizmente não posso.

Você acha que pode seguir o mesmo caminho dela quando parar?
Eu me vejo mexendo mais com a preparação. Usar minha experiência nesses vinte anos de vôlei de praia para tentar fazer com que o esporte cresça. Eu gostaria de fazer parte da CBV para dar estrutura à próxima geração e mostrar o que é necessário em uma Olimpíada. Mas eu gostaria primeiro de fazer um projeto pequeno no Paraná para depois galgar uma coisa maior.

A estrutura que a CBV oferece hoje aos atletas é a melhor do mundo?
Fora de quadra o Brasil tem uma das melhores estruturas do mundo. Até os americanos que são tão bons em estratégias não conseguem chegar perto.
Você sempre foi visto como o jogador mais completo da praia, uma espécie de Giba das areias.

Como driblar isso e quem você apontaria como seu substituto?
Tenho essa facilidade porque eu aprendi uma coisa diferente com as parcerias que eu tive. A bloquear com o Loiola, a sacar forte com o Zé Marco. Então eu fui adaptando o meu jogo a cada parceiro e isso me deu anos de experiência. Hoje não tem um jogador que já tenha isso. Existem jogadores com facilidades para certos fundamentos. Mas pelo que eu vi neste início de temporada eu acho que o Pedro Solberg é o que mais se aproxima disso.

Fonte:voleibrasil.org.br

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