A ANTV convidou o Prof. Paulo Cunha, actualmente sem o comando de qualquer equipa, para fazer uma análise do panorama actual do Voleibol Masculino em Portugal, com particular incidência para a Divisão maior (A1), dando assim início a uma nova rúbrica de "Expert Coments", que pretendemos venha a ser assídua....
NOTAS SOLTAS A PROPÓSITO DO CAMPEONATO NACIONAL MASCULINO (2008/2009)
Contexto social e económico altamente perturbado, que não suscita entusiasmos.
Desinvestimento na quase totalidade das equipas, indo de encontro da sabedoria popular que expressa “quem não tem dinheiro, não tem vícios!”
Em consequência, ambiente voleibolístico pouco estimulante, com o nivelamento entre as equipas a ser feito por baixo. Pouca ambição, centrando-se a tónica no “deixar andar” e no simples cumprimento do dever.
A procura da superação, elemento central do desporto de rendimento, pouco se observa. Pode haver menor qualidade técnica mas, pelo menos, deve existir a total mobilização das capacidades volitivas.
Cada vez se treina menos bidiariamente.
A maior dos jogos foi insípida no plano do espectáculo presenciado. Como se podem mobilizar os patrocinadores, a televisão, etc., para comprar a nossa modalidade ?
Onde se nota a fraca qualidade técnica e táctica do jogo ? Sobretudo nos fundamentos que exigem mais trabalho no treino:
- Pouco serviço forte, provocando mossa nas recepções adversárias;
- Muitos erros de recepção;
- Pouca qualidade da intervenção defensiva;
- Estruturas pouco consolidadas no complexo bloco-defesa.
Será de rever a estrutura competitiva ?
Apenas este ano, no play-off (tanto quanto me recordo), uma equipa pior classificada na fase regular eliminou outra aí melhor classificada. Será que se justifica o play-off nos moldes em que está, se não existe emoção e surpresa ?
Por outro lado, as épocas muito curtas estão a “matar” o Voleibol.
Seguindo a ideia de que sem competição não há treino, a actual situação, em que o processo se desenrola durante 7 meses (nalguns casos menos), está em contradição total com os princípios do treino (continuidade, progressão e acção reversível).
Para evoluir é preciso treinar! Treinar mais! Se possível, treinar melhor!
No princípio das épocas, o nível de jogo a que se assiste é simplesmente horrível. Seria desejável que, em cada época, as equipas tirassem partido do trabalho desenvolvido nas temporadas anteriores e do estado de treino aí construído.
Embora clubes e federação poupem dinheiro com este estado de coisas, o nível de jogo baixa demasiado e não é possível implementar estratégias de desenvolvimento. Afinal de contas o “barato sai caro”! O que é afectado por isto? Desenvolvimento dos jogadores, das equipas, progressão técnica/ táctica, qualidade de jogo e, por arrasto, patrocinadores, televisão, selecções.
Apenas beneficiam os jogadores (e os clubes) que estão envolvidos nos trabalhos das selecções (quando estas funcionam). Mas a evolução de 12 (mais ou menos alguns) não é a do volei nacional.
A aprovação da lei dos estrangeiros tem mais prejuízos que vantagens para o Voleibol português.
- Porque não temos número de jogadores com qualidade para encher os plantéis das equipas da A1, sobretudo, em determinadas posições (centrais, opostos).
- Hipervaloriza jogadores que não merecem o estatuto alcançado (dos pontos de vista económico e da procura que têm).
- Receber melhor e não treinar mais não parece lógico (o Voleibol não evolui com estruturas clubísticas mais amadoras) numa perspectiva de desenvolvimento.
- O jogador português vê no Voleibol uma segunda actividade, planificando prioritariamente a sua vida pessoal, não sentindo necessidade de sequer pensar de outra forma.
- Algumas equipas poderão ter muita dificuldade em construir os seus plantéis, dada a incapacidade de atrair jogadores portugueses de qualidade.
O problema da aposta e qualificação do jogador jovem português passa pela sua afirmação num processo concorrencial (tal como em qualquer sector económico e empresarial extradesportivo), em que simplesmente joga quem é melhor.
Ainda relativamente à questão da “Lei dos Estrangeiros”, faltará resolver a questão da contratação dos jogadores comunitários. A regulamentação aprovada pela FPV parece ser claramente ilegal (ver declarações jornalísticas de Arnaud face à proposta 6+5 apresentada pela FIFA).
No nosso campeonato, podemos observar o fenómeno interessante da longevidade de alguns jogadores com idade próxima dos 40 anos. Serão eles foras de série? Ou os jovens são tão fracos que não lhes conseguem tirar o lugar? Provavelmente este último argumento colherá mais consensos. A maioria inclinar-se-á para esta última ideia, opinando que os jogadores jovens que construímos deixam muito a desejar, sob o plano técnico, mas mais gravosamente ainda, sob o plano mental, reclamando direitos que não merecem por não apostarem suficientemente na construção das suas próprias competências.
Face a tudo isto, não é difícil adivinhar um futuro pouco risonho para a Selecção Nacional.
- Estarão os nossos melhores jogadores “virados” (significa motivados) para representar a Selecção?
- As estruturas dos clubes são cada vez menos profissionais.
- Cada vez se treina menos.
- Praticamente não temos jovens jogadores. Quantos jogam efectivamente nas nossas equipas?
- Depois do tempo perdido com Jorge Schmidt, será Juan Diaz (apesar da sua reconhecida competência) capaz de repetir os “milagres” que já fez?
Uma última palavra para as equipas participantes no Campeonato Nacional.
- SCE: Grande plantel, experiente. Tem rendido dentro das expectativas. Equipa, à partida, grande candidata ao título.
- VSC: Tem estado abaixo das expectativas na qualidade de jogo expressa. Pode fazer melhor. Se o conseguir, terá condições para defender o seu título, tão brilhantemente conseguido na época anterior.
- CMGC: Equipa experiente, embora com um plantel limitado. Fez uma boa fase regular. Foi algo inexplicável a sua eliminação no primeiro play-off, que deixa um sabor amargo na avaliação da época.
- SLB: Plantel remodelado e com limitações. Foi subindo de rendimento ao longo da época, fruto do trabalho desenvolvido e da valia de alguns dos seus elementos. Entrar nos 4 primeiros significa ter atingido o objectivo prefixado. Seria difícil fazer melhor.
- LSC: Equipa que vale pelo seu conjunto, experiente, jogando há pelo menos 3 épocas em conjunto, com limitações na profundidade do plantel. Começou mal e foi evoluindo gradualmente. Entrar nos 4 primeiros significa ter atingido plenamente os objectivos temporada.
- AJFB: Equipa de quem se espera sempre muito, sobretudo se se entrar em linha de conta com o investimento feito. Foi algo irregular na primeira fase, tendo pago preço pela ausência da disputa dos 4 primeiros lugares que, à partida, mereceria.
- EGC / AAE: Equipas com reduzido investimento e plantéis algo limitados. Começaram mal, tendo vindo a evoluir com o decorrer do campeonato. Face às condições que actualmente dispõem, seria muito difícil fazerem melhor.
- GCV: Foi a decepção do campeonato, sobretudo se atendermos àquilo que realizou em épocas anteriores.
- ADM / CSM / Clube K: Equipas que tradicionalmente têm dificuldades na formação dos seus plantéis, devido ao orçamento reduzido e à dificuldade em atrair jogadores portugueses de valor. Nestas condições, será difícil fazerem melhor, para além da dedicação evidenciada em campo.
Fonte - ANTV ..Associação Nacional de treinadores de voleibol
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